As noites em Angola #2.13

E ao 13º dia, o meu número preferido, andei fora de Luanda. Visto que não conheço Luanda Sul, o meu Domingos, o motorista, foi comigo!  Digo o meu Domingos, porque como Robinson Crusóe precisava do Sexta-Feira, eu tenho o Domingos que é um amor de pessoa! ... Um dia falarei sobre ele! ... Hoje é dia de dizer que a minha saída à noite de ontem é capaz de dar um filme e que o dia de hoje quase que tem direito a uma mini-série de tanta a informação que acumulei.
Tanto momento que gostaria de partilhar convosco. Tanta beleza. Tanta riqueza, pobreza. Cheiro a mar. O cheiro a peixe seco que me transportou para as salinas de Câmara de Lobos. Tanta pureza de coração. Um morro que é em tudo semelhante ao antigo ilhéu da minha terra. Tanta mistura de sentimentos. A humidade, o calor, o suor,... o sangue que este povo derramou e derrama para construir casas no meio do nada depois de tantos anos em guerra. Muitas das zonas que vi hoje habitadas não o eram há 5 anos atrás. Eram zonas de guerra, disse-me o Domingos. Luanda cresceu. Luanda cresce.
Para sair de Luanda centro foi uma confusão enorme. A primeira paragem foi a Feira de Artesanato de Benfica. Peças lindas. Quadros fantásticos. Tratavam-me por amiga, mas eu fui tudo menos isso. Fiz bons negócios. Consegui baixar bastante os preços e já tenho lembranças, com selo do Ministério da Cultura, para a família. 
Fui à Barra do rio Kwanza. Estive dentro do Paque de Kisama. Não fiz safari! Na estrada, parei várias vezes para tirar fotos e numa delas chamaram-me nomes porque tirar fotos é tirar a alma ao objecto e às pessoas. Agradeci, respeitei e continuei a minha viagem.  
Fui ao Miradouro da Lua onde só ouvia o som do mar e das aves que por ali voavam. Os meus olhos não acreditavam no cenário cinematográfico que estava ali perdido entre a estrada Luanda-Benguela. A estrada está cheia de árvores que têm o nome de Imbondeiro, e que dão uma fruta chamada Múcua. Passamos pelo Morro dos Veados onde vi um Brown em vez de um Green
Estive no Museu da Escravatura, onde vieram-me as lágrimas aos olhos. Eu não queria lá entrar. O Domingos é que disse: "Susana, vai. No Museu só vai angolano. Tu tem coragem para ser a única branca lá." E eu fui! 
O ser humano é capaz de tanto amor e tanta crueldade.
Pedi ao Domingos para me mostrar a verdadeira Luanda. Por isso, também passamos pelo Bairro Rocha Pinto onde comi uma banana assada com ginguba, pelo Bairro de Corimba, pelo Bairro Azul, pelo Bairro do Ramiro, e outros tantos. Não necessariamente por esta ordem. :) 
As zonas ricas: Belas, Talatona, Kaxixe, Viana são só condomínios fechados e casas com seguranças à porta. Bairros onde talvez tiraram demasiadas fotos.   
Dados das fotos:
Autor: eu
Data: 10-Julho-2010
Local: Morro da Cruz, Luanda, Angola







2 comments:

  1. O Miradouro da Lua faz-nos sentir pequenos perante o poder da natureza e dos séculos a passarem.

    Os bairros de luxo... a mim deixaram-me de queixo caído. Nunca pensei que pudesse haver disso aí, até porque esse tipo de condomínios de luxo nem sequer existe em Portugal. Impressionante. E triste, muito triste, especialmente quando andamos, nos dias anteriores, a passar nos bairros mais miseráveis que se podem imaginar... :(

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  2. Exacto!
    É um mundo à parte! Os bairros de luxo cá são mesmo um LUXO.

    E se andarmos mais uns 3km, vi no Bairro Rocha Pinto um mar de gente, toda na rua... quase toda descalça, semi-nus! Foi de cortar o coração!

    A rapariga que me vendeu a banana assada não tinha sapatos. Perguntei-lhe pelos sapatos e ela disse que tinha uns...para ir à escola. A banana custava 100 kwanzas. Dei-lhe 300.

    Se desta vez trouxe roupa para um orfanato!
    Para a próxima faço eu mesma a distribuição!

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