8 anos


Não gosto de revisitar o passado. 
Há muito que não o fazia, e quando o faço muitos acontecimentos ressurgem e não quero isso. Hoje faz oito anos que a minha mãe faleceu de doença prolongada. Em Agosto fez oito anos que o meu irmão N faleceu de um ataque cardíaco. Em Fevereiro faz dois anos que a minha única irmã faleceu devido a um derrame cerebral. O meu pai, os meus irmãos, os meus sobrinhos, os meus tios e eu lidamos com a luta constante que é lidar com a perda de entes queridos. 

Mas hoje ao acordar, do que me lembrei não foi das mortes que moldaram algumas das decisões que fiz nos últimos anos. 
Lembrei-me de alguém que era capaz de dizer de manhã que amava uma pessoa e que ao final do dia fazia sexo com outra . Lembrei-me do quanto tentei ser feliz com alguém porque não queria estar sozinha. Lembrei-me das mudanças que fiz, umas para pior e outras para melhor. Lembrei-me do quanto esperei que esse alguém tivesse os mesmos valores de vida que eu. Lembrei-me do quanto é importante gestos de confiança e que nem tudo tem que ser romântico. 
Mas com tantas lembranças, lembrei-me também de que sou humana, de que errar é humano. Nunca devia ter deixado alguém ter estado tanto tempo na minha vida. 
Sempre tentei ser feliz, dei prioridade a mim até que a minha mãe morreu e de repente, dei por mim "sozinha" no mundo, talvez seja essa a razão de ter tido alguém tanto tempo na minha vida e ter me envolvido na relação que acabou este ano. Deixei-me involver com alguém porque tive medo de ficar sozinha. 

Hoje, três meses depois de ter mudado de casa, tento distanciar-me de um passado que moldou os meus medos e algumas das minhas frustações. Yoga, correr e meditação reforçou aquilo que já suponhava ser o melhor para mim, colocar no fundo do saco da minha memória os maus momentos e focar mais em mim e na minha saúde mental. 
Tento esquecer para não embarcar nas emoções. Nunca o consegui plenamente, tem dias. 
E decidi aceitar o passado, mas perdoar não.  
E hoje do que me lembrei foi de que há mais de três meses que não choro desalmaldamente no chuveiro. E não consigo concluir se chorava por ter perdido "as minhas pessoas preferidas"; por ser infeliz com alguém ou por não ter coragem de colocar um ponto final na vida que tinha. 
Penso todos os dias nas pessoas que faleceram, falo com eles, mas não choro de infelicidade como antes.  

 “The world is full of magic things, patiently waiting for our senses to grow sharper” – W. B. Yeats


Why Women Kill