(Lisboa)
"O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus
sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que
escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus
defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o
ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem, sem esse ideal? E se
um amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo,
culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quando vale aquela amizade, em
que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade e perseverança?
Quanto vale qualquer afecto que espera recompensa? Não seria nosso dever
aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel?
Não seria isso o verdadeiro conteúdo de todas as relações humanas, esse
altruísmo que não quer nada nem espera nada, absolutamente nada do
outro? E quanto mais dá, menos espera em troca?(…)Vês, dediquei-me a
essas questões teóricas quando fiquei sozinho. Naturalmente, a solidão
não me deu resposta. Nem os livros deram resposta perfeita. Nem os
livros antigos, os estudos dos pensadores chineses, hebreus e latinos,
nem os modernos que falam sem rodeios, mas dizem sobretudo palavras e
não a verdade.”
As velas ardem até ao fim de Sándor Márai
Dados da foto:
Autor: eu
Data: 31-Julho-2010
Machico, Ilha da Madeira
No comments:
Post a Comment