Terça-feira de manhã vou embora. Fecho assim o ano com 5 viagens cá e que resultaram em 12 semanas de trabalho o que dá 3 meses de conhecimento da realidade Angolana/Africana.
Cada vez que regresso a Portugal vou cheia de ideias e de mala vazia.
Cada vez que volto a Luanda venho cheia de energia e de mala cheia.
Já trouxe livros que entreguei no Instituto Angolano de Solidariedade Artes e Saber.
Já trouxe roupa que entreguei num orfanato.
E já deixei, com aquele que é o meu motorista, roupa... da minha roupa.
Os livros vão para as prateleiras. Os orfãos continuam sem ajuda e sem uma educação adequada. O motorista sofre por não conseguir colocar a filha numa escola.
E eu fico chateada, pois a mim o que me revolta é fazerem campanhas de luta contra a pobreza, programarem galas de angariação de fundos para combater a fome e realizarem discursos que temos que ajudar quando dentro do conforto do seu lar mudam o comando da tv, quando de dentro do conforto do seu Hummer saem todos aperaltados em busca de protagonismo, e quando do conforto do seu pedestal nem têm conhecimento da dura realidade.
Angola não é a África toda, mas Angola faz parte de África. Em Angola vejo tudo isto.
Estas músicas de apelo deixaram de ter qualquer significado para mim.
De nada adianta pedir se não arregaçarem as mangas e se meterem pelos musseques e pelo deserto árido africano e construirem escolas, falarem com as pessoas de modo a poderem perceber a razão do olhar triste.
Fui educada para ser a melhor no que faço e a arregaçar as mangas. Não consigo dizer que vou apoiar e depois ficar à espera que algo aconteça. Descendo de uma família de professores e pescadores. Se de um lado aprendi a ser lutadora e a trabalhar arduamente, do outro lado aprendi a questionar os meios para chegar à solução.
Ao questionar sobre os procedimentos coloco em causa o funcionamento.
Cá em Angola sou mal vista quando digo que o problema esta na formação, na aposta em educar e tratar todos por igual.
Se dermos sempre algo, elas o tomam por garantido enquanto outros gabam-se de que são eles os construtores de um mundo melhor.
"Não lhe dês o peixe, dá-lhe sim a cana e ensina-o a pescar"
Muitas das fotos que tirei nestas 12 semanas de trabalho em Angola não mostram a verdadeira realidade daquilo que vi.
Grande, grande post, parabéns.
ReplyDelete[eu gosto desta tua casa mas…, há uma coisa que…, esta letrinha miudinha irrita ;)]
Oh. :(
ReplyDeleteTudo por causa da letra?
É que se a letra fôr tamanho normal, o blog fica feio.
Além de que a letra é como eu. Pequenina. :)
Obrigada pelo comentário e pela visita.
Jinhos,
P.
So sad and yet... so true! :S
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