Como não tenho palavras que consigam descrever o que passei e o que senti nos últimos 2 dias. Deixo aqui um excelente texto do Aires (
"Os ilhéus e em especial os madeirenses estão familiarizados com os aluviões que ciclicamente assolam a ilha. Esta total sensação de desprotecção face à força dos elementos, imiscui-se e é digamos parte intrínseca, para o bem e para o mal, contribuindo na construção da espécie de sentimento a que chamamos o ser ilhéu ou neste caso específico, o ser madeirense.
E com isso, podia discorrer e apontar como uma das razões para o elevado conservadorismo da sociedade ou para o peso que instituições como a Igreja Católica, têm na sociedade madeirense. Mas o objectivo deste meu texto não é esse.
É meramente expressar, num texto que assumo ser pessoal, o sentimento vivido à distância, durante todo o dia de hoje. Impotência. Dura e pura. O tentar contactar os entes queridos e não conseguir. O olhar para notícias cada vez mais alarmantes e imaginar o pior. O imaginar possíveis percursos trilhados por quem nos é querido e esperar que o pior não tivesse acontecido. O imaginar que palavras poderiam nunca vir a ser ditas, palavras que sempre deixamos para uma outra ocasião. O passar de um aparente distanciamento perpétuo, que acaba por acontecer quer se queira quer não, para uma urgente necessidade de querer estar lá e ser parte envolvida.
Há um mês, escrevi aqui sobre o desastre ocorrido no Haiti, mas sendo madeirense (ainda que expatriado no rectângulo) como muitos que aqui escrevem e sentindo-me parte envolvida pelo facto de ter a minha família e muitos amigos na ilha, cometo o sacrilégio de confessar que de repente o Inferno dantesco haitiano parece-me algo menor face ao cataclismo diluviano de características bíblicas que ocorreu hoje na minha terra natal. É tudo uma questão de perspectiva e de proximidade, digo eu com o meu agnosticismo pontuado com uma educação numa sociedade profundamente católica, que em alturas de maior irracionalidade aparenta "sobremergir".
Sobre o desastre, mais que encontrar culpas - que as há entre a Natureza e a acção humana - importa acima de tudo minorar os destroços causados e procurar dar conforto e ajuda a quem mais necessita. O rescaldo e o apuramento de responsabilidades é uma necessidade, mas ainda não é tempo para tal, quando necessidades básicas ainda não estão supridas e o sofrimento é recente. O aproveitamento político do caso - seja a favor ou contra como ouvi e li, mais que despropositado, enoja-me e ultrapassa os limites da ética que deveria existir na "res pública". Por uma questão de respeito. Mas as consequências deverão ser apuradas. Porque nada justifica tão elevado preço a pagar. E para que a impotência face à força dos elementos, ainda que impossível de vir a ser domada, não tenha as trágicas consequências que são hoje notícia. "
E com isso, podia discorrer e apontar como uma das razões para o elevado conservadorismo da sociedade ou para o peso que instituições como a Igreja Católica, têm na sociedade madeirense. Mas o objectivo deste meu texto não é esse.
É meramente expressar, num texto que assumo ser pessoal, o sentimento vivido à distância, durante todo o dia de hoje. Impotência. Dura e pura. O tentar contactar os entes queridos e não conseguir. O olhar para notícias cada vez mais alarmantes e imaginar o pior. O imaginar possíveis percursos trilhados por quem nos é querido e esperar que o pior não tivesse acontecido. O imaginar que palavras poderiam nunca vir a ser ditas, palavras que sempre deixamos para uma outra ocasião. O passar de um aparente distanciamento perpétuo, que acaba por acontecer quer se queira quer não, para uma urgente necessidade de querer estar lá e ser parte envolvida.
Há um mês, escrevi aqui sobre o desastre ocorrido no Haiti, mas sendo madeirense (ainda que expatriado no rectângulo) como muitos que aqui escrevem e sentindo-me parte envolvida pelo facto de ter a minha família e muitos amigos na ilha, cometo o sacrilégio de confessar que de repente o Inferno dantesco haitiano parece-me algo menor face ao cataclismo diluviano de características bíblicas que ocorreu hoje na minha terra natal. É tudo uma questão de perspectiva e de proximidade, digo eu com o meu agnosticismo pontuado com uma educação numa sociedade profundamente católica, que em alturas de maior irracionalidade aparenta "sobremergir".
Sobre o desastre, mais que encontrar culpas - que as há entre a Natureza e a acção humana - importa acima de tudo minorar os destroços causados e procurar dar conforto e ajuda a quem mais necessita. O rescaldo e o apuramento de responsabilidades é uma necessidade, mas ainda não é tempo para tal, quando necessidades básicas ainda não estão supridas e o sofrimento é recente. O aproveitamento político do caso - seja a favor ou contra como ouvi e li, mais que despropositado, enoja-me e ultrapassa os limites da ética que deveria existir na "res pública". Por uma questão de respeito. Mas as consequências deverão ser apuradas. Porque nada justifica tão elevado preço a pagar. E para que a impotência face à força dos elementos, ainda que impossível de vir a ser domada, não tenha as trágicas consequências que são hoje notícia. "
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