Viagem número 4.
7ª semana passada em Angola.
Depois dos múltiplos problemas com o Visto cá estou no país que me tem acolhido de braços abertos mas com olhar desconfiado. E uso a palavra desconfiado porque tenho tido alguns problemas em obter visto. Apesar da burocracia do processo já consigo tratar dos meus papeis em menos de uma hora. O processo no consulado é que não é tão ágil quanto devia. O plano de trabalhos foi-se todo por água abaixo por causa dos vistos! Vim cá uma semana em finais de Agosto e regressei na passada segunda-feira, mesmo quando devia ter regressado no domingo. O atraso de 24 horas deveu-se ao facto de o visto só ter ficado pronto na segunda o que causou uma carga de trabalhos à personal assistant da empresa que estava responsável por tratar da viagem. Muito trabalho foi feito a partir de Lisboa e devo agradecer ao tipo de ligação que o cliente possui. Os acessos PT-AO-PT têm funcionado muito bem.
Nesse aspecto considero-me uma privilegiada porque o cliente tem excelentes condições de trabalho.
Tive uma péssima experiência numa pensão de nome Fátima. Agora estou num apartamento que uma empresa parceira tratou de arranjar para mim. Divido o apartamento com mais duas raparigas, uma que trabalha na RTP e outra numa empresa de segurança e ... tenho cozinha. :)
O que tinha de mal a pensão? Tudo. Eu sou esquista como o raio! O colchão tem que ser duro e a almofada também. E por favor, se dizem que são uma pensão, que tenham pelo menos água quente e fruta ao pequeno-almoço... Além dos problemas de costas, ganhei um torcicolo! Hoje já estou melhor. O que me irritou na pensão? Mais uma vez tudo. Uma coisa é o que vou fazer este fim-de-semana que é acampar em Cabo Ledo e já sei o que me espera. Mas ter que estar apresentável, maquilhada e acordar mal disposta porque a cada movimento sentiamos a cama mole ou o barulho do bar lá perto e nem ter água quente para lavarmos o corpo suado da noite mal dormida... meus amigos, assim não consigo ser produtiva! Lamento. E eu até gosto de tomar banho de água fria, mas ADORO uma noite bem dormida apesar de dormir pouco.
Como tudo tem solução pedi para mudar e consegui o que queria. A pensão onde fiquei das outras vezes não tinha vagas, daí ter tido esta confusão toda. O que aprendi naquelas duas noites? Voltar a não julgar um edifício pelo seu exterior. Porque esta pensão tem muito bom aspecto visto de fora.
Em relação ao apartamento... O Apartamento tem cozinha o que significa que posso fazer as minhas comezainas madeirenses e partilhar com uma cabo-verdiana e com uma luxemburguesa. Para os poder fazer mudei de supermercado. A mercearia Shoprite já não chega para as encomendas e por isso fui ao Jumbo. Eu e o Domingos. O Domingos faz sempre os primeiros trajectos comigo. Sempre. Depois disso já consigo fazer sozinha e acho piada conduzir em Luanda, mas isso será outro post. :) O Jumbo... Como descrever o Jumbo de Luanda? Nem sei por onde começar. O meu sorriso começou a alargar-se ao ver os seguranças ao chegar ao parque de estacionamento. Os seguranças estão lá sentados e nada fazem. A organização no estacionamento não existe. Os carros estão quase uns em cima dos outros. O supermercado é semi-organizado, depois da confusão à entrada e à medida que percorremos alguns corredores já conseguimos encontrar os artigos que queremos. A quantidade de pessoas nas compras surpreendeu-me. O Jumbo parecia o Continente quando lança aquelas promoções de 75% ou no Natal. Os carrinhos estavam cheios de artigos. Dei por mim a pensar que nem no Natal os meus pais enchem o carrinho de compras daquela maneira ... e nós somos quase vinte pessoas à mesa durante dois dias. Não encontrei os meus cereais e nesse corredor achei curioso só encontrar Nestum mel, Nestum Arroz, Nido e Chocapic. Depois de ter o meu cesto cheio dirigi-me à caixa onde realizei o pagamento. E recebi o troco em dinheiro e uma sopa de pacote. Em todos os supermercados de Luanda onde realizei compras recebi sempre algum troco em rebuçados. Lembro-me de fazerem isto na mercearia ao lado da casa dos meus avós maternos. Cá em Luanda parece que é normal. Até numa grande superfície. Depois de mostrar o talão de compra e as compras ao segurança à saída do Jumbo a verdadeira aventura começa. Não conseguiamos sair do estacionamento. O carros estavam estacionados de acordo com o capricho dos seus donos e nos sítios onde devia estar uma passagem estavam dois ou mais carros. Estivemos meia-hora para sair de lá.
Hoje é o dia do Herói Nacional. É feriado cá em Angola.
"O dia 17 de Setembro, data de nascimento do fundador e primeiro presidente da República de Angola, António Agostinho Neto, é considerado Dia do Herói Nacional, devido ao seu contributo dado na luta armada contra o colonialismo português e pela conquista da independência nacional." (fonte Komunidade.net) Feriado é sinónimo de festa. E a festa começou ontem. Churrasco na rua, cerveja e muita música. Música muito alta! Todos têm altas aparelhagens, juntam-se com carne e carvão e lenha e pronto ... arraial a noite toda. Noite e manhã, porque só pelas 14horas é que comecei a sentir Luanda mais calma.
Amanhã vou para Cabo Ledo. Vou passar lá o fim-de-semana. Vou acampar e não vou queixar-me da dormida, porque sei para onde vou e não tenho a responsabilidade de no dia seguinte estar apresentável e pronta para ser consultora. :)
A surpresa desta semana foi terem chegado ao pé de mim* e dizerem:
- Sabias que o teu Roque acabou? A feira que tinha de tudo. A feira, a que eu queria voltar, foi fechada. :(
* Acho que já não sou só a consultora branca que pretende desmaterializar os processos.