"Perto da morte escutava uma música
que o transportava até à mais distante das viagens.
Todo o eco dessa memória concentrado
lhe iludia o presente, como uma droga
que interrompesse o fluxo da dor
sem outra dor provocada,
que tomasse o chão, o desígnio antecipado
que só a escrita revela.
Essa música queimava, era como ácido
reduzindo o vegetal da insensata procura
a uma simples folha, cujas formas
permaneciam descarnadas no espelho da sua visão.
Era dos gelos, a música, da fúria dos ventos,
do cavername de um navio quebrando-se
contra o icebergue que derretia eternidades adentro,
Escutava a inumana beleza desse chiar
absoluto, e os olhos, os seus olhos de espano,
recolhiam-se, escondiam-se no crânio seco. "
Depois da Música by Luís Quintais
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