"(...)
Os dias longos, as noites no meio do mar.
Espero o porto de chegada, as virtudes restituídas,
o espírito enfim reconciliado com o mundo.
E desembarco, há uma qualquer experiência surpreendente,
caminho para o conhecimento.
Consigo agarrar essa meada ainda irreconhecível: a maneira como tudo se enreda em tudo.
Desabituei-me dos milagres.
Sabe-se como é: quase todas as manhãs acordo angustiado,
esforço-me por imaginar que este dia é virgem e primeiro, carregado de poderes enigmáticos, destinado às revelações.
Literatura. Merda. Trata-se de mais um dia em que me vou chatear,
aturar os meus semelhantes, a filha-de-putice teológico-emocional de um Deus que, ainda por cima, não existe.
Posso especular sobre a revolução, evidentemente.
Que revolução? A revolução, claro. Pois é: a minha revolução não dá um passo.(...)
- Herberto Hélder
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